quinta-feira, 30 de junho de 2011

O FUTURO SERÁ...

VENHO POSTAR ESTA MATÉRIA DE RICARDO KOTSCHO POR ACHÁ-LA MUI APROPRIADA HÁ REALIDADE SÓCIO-POLÍTICA DE HOJE NO BRASIL, E CONVIDÁ-LOS A MEDITAR SE NÃO SERIA TAMBÉM APROPRIADO ESTE MOVER NA RELIGIÃO CRISTÃ.

O futuro da política fora dos partidos


Como passei alguns dias longe do Balaio, peço um pouco de paciência aos leitores para este texto mais longo do que o habitual, resultado de várias conversas que tive e de fatos acontecidos nas últimas semanas.

Em resumo, para quem não puder ir até o final, quero falar do rápido e progressivo esvaziamento do papel dos partidos políticos em todo o mundo.

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Está havendo um movimento global de grandes manifestações populares que não são mais comandadas por partidos ou líderes políticos, seja para derrubar governos, expressar sua fé ou opção sexual, seja, simplesmente, por um descontentamento vago e generalizado que varre o mundo.

Em São Paulo, no último feriadão, tivemos duas marchas que mobilizaram milhões de pessoas nas ruas, deixando os partidos de fora, em dimensão muito maior do que os grandes atos políticos na Campanha das Diretas, em 1984, ou nas disputas presidencias após a volta da democracia.

De um lado, no dia de Corpus Christi, a monumental Marcha para Jesus, que segundo seus organizadores reuniu 5 milhões de pessoas ao longo de uma interminável caminhada. A Polícia Militar calculou o público em um milhão de participantes, mas, de qualquer forma, as imagens mostraram muita, muita gente.

AGE20110623218 O futuro da política fora dos partidos

De outro, no domingo, tivemos a Parada Gay, já uma tradição em São Paulo, que este ano teria reunido 4,5 milhões de militantes, de acordo com os organizadores (a PM desta vez resolveu não informar seus cálculos).

Nas semanas anteriores, tivemos manifestações menores para defender a legalização da maconha, que acabaram em pancadaria, mas depois foram liberadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Não dá para dizer que estas manifestações não tenham também um cunho político, já que os dois lados se criticaram mutuamente, um acusando o outro de intolerância, mas os partidos ficaram longe das marchas.

Na Espanha, na Itália e em Portugal, em razão da crise econômica que afeta os bolsos e ameaça os empregos, mas não só por isso, as multidões nas ruas derrotaram governos de direita e de esquerda e defenderam mudanças no sistema político, sem que ninguém saiba definir exatamente o que colocar no lugar.

O povo nas ruas também derrubou velhos ditadores em diferentes partes do mundo, e não apareceram até agora partidos e líderes políticos capazes de administrar o espólio e muito menos explicar o que fazer com ele.

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Em Brasília, partidos aliados do governo dão demonstrações de fisiologismo explícito na disputa fraticida por nacos do poder, enquanto a oposição discute o que fazer com a sua massa falida.

Num misto de balcão de negócios e circo de horrores, no qual ninguém parece interessado em debater temas de interesse geral e real do país, mas apenas nas suas pequenas vantagens privadas, o Congresso Nacional parece sempre estar chegando ao fundo do poço, que nunca chega.

É este o mais dramático resultado da falência dos partidos, de todos eles, à esquerda e à direita, sem propostas e sem novas lideranças capazes de entusiasmar o eleitorado.

Até os políticos parecem insatisfeitos com seus partidos, como demonstra a crescente adesão à nova sigla lançada no mercado pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab, o tal do PSD.

O que vem a ser isso? Para facilitar as adesões, seu criador já anunciou que este partido não será nem de esquerda nem de direita, muito menos de centro, nem de cima e nem de baixo, não será governo nem oposição, quer dizer, não é nada.

Só tem utilidade eleitoral para abrigar e oferecer legenda aos descontentes dos outros 27 partidos já existentes _ isso mesmo, vinte e sete!

AGE20110626120 O futuro da política fora dos partidos

Na entrevista exclusiva que Heródoto Barbeiro e eu fizemos para o Jornal da Record News com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na semana passada, perguntei a ele como via o futuro do seu PSDB. Suas palavras não foram nada animadoras. Nem para os tucanos, nem para os outros.

FHC, que recentemente se engajou no debate global sobre o uso e o combate às drogas, um tema que nunca fez parte do repertório dos nossos partidos, nem dos debates no Congresso Nacional, constata que todos eles, inclusive o PT, estão se distanciando cada vez mais da vida real dos brasileiros, deixando de representar o pensamento e os anseios dos seus eleitores.

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Na manhã desta segunda-feira, durante seminário promovido pela revista "Brasileiros", conversei sobre o mesmo assunto com o governador pernambucano Eduardo Campos, que pertence a outra geração, mas repetiu quase as mesmas palavras desalentadoras de FHC sobre o futuro dos partidos.

Campos não precisa ir muito longe, pois sente o problema no próprio PSB, o velho Partido Socialista Brasileiro, que lidera e preside. Às voltas com disputas internas, o PSB não consegue traduzir em ações políticas concretas as suas expressivas vitórias em 2010, não sabe como atrair a juventude, novos militantes.

Aliado do governo, Eduardo Campos não se sente à vontade para dizer diretamente à presidente Dilma Rousseff o que acha errado em iniciativas como o trem-bala e o sigilo no orçamento da Copa do Mundo. Há um vazio na articulação política, consequência da falta de lideranças partidárias.

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Já vinha pensando neste assunto há um bom tempo, e hoje, por coincidência, encontro no alto da página 3 da "Folha" o artigo "A vida fora dos partidos políticos". Foi escrito pelo ambientalista Fábio Feldmann, um jovem de 56 anos, que, após 24 anos de militância partidária, desligou-se do PV e anunciou que daqui para a frente vai atuar suprapartidariamente, ou seja, sem se filiar a ninguém.

Na mesma edição do jornal, Marina Silva, do alto dos quase 20 milhões de votos que conquistou na última eleição presidencial, também anuncia sua saída do PV para criar um novo partido. Que novo partido? Mais um?

Se cada um que não está satisfeito com as 27 siglas existentes resolver criar seu próprio partido, faltarão eleitores na nossa ainda imberbe e frágil democracia.

Quando Marina resolveu sair do PT alegando questões éticas, mas, na verdade, apenas buscando uma legenda que lhe garantisse a candidatura presidencial, fiz uma longa entrevista com ela e escrevi que minha amiga estava sendo mordida pela "mosca verde".

Não que o PT não tenha lhe dado bons motivos para sair, já que vivia às turras com seus colegas de governo Lula. Certamente, porém, o PV não lhe deu nenhum motivo muito nobre para entrar no partido.

Ou alguém acha mesmo que Marina se encantou com as propostas ecológicas do programa do PV do deputado paulista José Luiz Penna, o velho coronel urbano que é dono do partido?

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Estas disputas por poder dentro dos partidos e nos vários níveis de governo só interessam mesmo aos editores da velha imprensa e seus colunistas, que vivem das futricas brasilienses em seu mundinho particular, um puxando o outro para baixo, como se o país vivesse em crise permanente.

A crise é deles, não nossa.

Valeu, Graziano!

Estive no ano passado em Santiago, no Chile, para visitar meu velho amigo José Graziano da Silva, o popular Grazianinho, e sou testemunha da luta incansável dele para que o Brasil conquistasse a direção geral da FAO, o orgão da ONU que cuida da segurança alimentar.

Com a ajuda do então presidente Lula e, depois, da presidente Dilma, e da sua mulher, a incansável jornalista Paola, Graziano rodou literalmente o mundo, não apenas para conquistar votos, mas para defender as propostas brasileiras colocadas em prática no Fome Zero e no Bolsa Família, os programas sociais mais bem sucedidos e copiados, de acordo com a própria ONU.

Fiquei feliz por ele, pelo Brasil e, principalmente, pelos milhões de famintos espalhados pelo planeta, que poderão agora receber uma contribuição mais efetiva da ONU para combater o maior flagelo da humanidade.

Voltando atrás

De uma só tacada, a presidente Dilma Rousseff voltou atrás em duas questões polêmicas, que só provocaram grande desgaste ao governo nos últimos dias: agora, não haverá mais documentos oficiais que poderão ficar secretos para sempre, como queriam Sarney e Collor, e não serão mais sigilosos os orçamentos da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, como foi aprovado na Câmara.

Chega de sigilos e atos secretos. Melhor assim.

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